sexta-feira, 13 de abril de 2012

A VIDA POR UM FIO


A VIDA POR UM FIO
O que vou postar agora é um caso típico da vida real que só se pode comedi-lo tendo-o debaixo dos olhos. Aconteceu com Kennedy Santos, grande amigo, companheiro de muitas lidas e pessoa que detém elevado posto na minha estima. Era o último dia do mês de janeiro deste ano quando, inesperadamente, por muito pouco, não perdeu a vida. Antes de reescrever o texto de sua autoria, em que relata aquele fatídico acontecimento, quero fazer uma prefação sobre esse amigo de muito em comum: Além de extrovertido, Kennedy é do tipo “pau-pra-toda-obra”. Travamos amizade no rádio, em fins dos anos 80 – do século passado, é claro! – quando pude honrosamente tê-lo como repórter em um jornalístico da então Rádio Guanabara, de Coelho Neto-MA. Não só na imprensa alternativa, mas em programas musicais, no teatro e nas artes plásticas o seu talento é também inquestionável. Aliás, pintura em tecidos, pelo modo Silk Screen, foi ele quem trouxe esse tipo de arte para Coelho Neto, cujo conhecimento repassou para algumas pessoas, que ainda hoje fazem dessa atividade fonte de renda para suas famílias. Kennedy não continuou por esse caminho porque o que gosta mesmo é de fazer comunicação. Ocorre que a maioria das emissoras - algumas por desleixo outras por incompetência dos seus proprietários - fecharam, e as oportunidades foram se escasseando mesmo com o advento das Rádios Comunitárias, por onde ele teve uma brilhante passagem. Deixando de lado suas qualidades profissionais, recentemente Kennedy conseguira um contrato para trabalhar em um carro de som embora ganhando dinheiro (e um bom dinheiro) na composição de pinturas. Não sei se por destino ou por puro prazer, o certo é que ele encarou essa atividade pensando na efetivação de planos futuros. E foi aí que o inesperado aconteceu como ele mesmo assim narrou: Era terça-feira, 31 de janeiro de 2012, por volta das 11h30min da manhã. Tudo corria bem. Eu tinha acabado de fechar um contrato de propaganda volante com o bloco carnavalesco “Siri na Lata”, quando resolvi ir para casa. Liguei o carro e saí. De repente a colisão. Um caminhão basculante, de modelo antigo, desgovernado, sem freios, chocou-se frontal e violentamente contra o veículo que eu dirigia, arrastando-o em sentido contrário por dezenas de metros. Quando dei por mim estava preso nas ferragens, com o volante pressionando o meu tórax. Tentei respirar, não pude. Os pulmões não conseguiam receber oxigênio. Pensei na família (esposa, filhos e irmãos). Lembrei-me de Deus e gritei: “Pai, de infinita bondade, me ajude”. Traspassado de dor, o objetivo agora era o socorro médico. Curiosos tentavam me ajudar. Em meio à agonia consegui desligar o motor e o som e sair do carro, sendo socorrido por um carona até o hospital. Por sorte, foi tudo muito rápido. Na emergência fui atendido pelo Dr. Pablo que, depois de examinar-me, autorizou que me aplicassem antibióticos. Um pouco mais tarde recebi a visita de um grande amigo, Cacau, a quem pedi que avisasse minha família. O sofrimento continuou. A dor era dilacerante. Estava difícil respirar. Sob suspeita de fratura, fui submetido a exames de raios-X. Negativo, não havia fraturas. Passado esse novo susto apareceu, como que guiada por Deus, a minha filha mais velha, Ariely, que seria, a partir daquele momento, meus braços e minhas pernas na luta pela vida. Pouco mais tarde, chegou minha esposa, para reforçar o auxílio psicológico. Esta, mesmo abalada, tentava me confortar. Novamente pensei nos meus filhos menores, Daniel e Gabriel. Pedi-a que fosse para casa e cuidasse deles, que “Deus me ajudaria a sair dessa”. Outro grande amigo – Gabriel Delano – tentava diminuir minhas preocupações. Afirmara que providenciara o transporte do veículo sinistrado para a oficina, e que o mais importante agora era a minha vida. Ainda eu ouvia o amigo quando chegou a sargento Vânia, da PMMA, para as perguntas de praxe. Foi difícil respondê-la. A dor não cessava. E se agravou quando tive vontade de urinar. Desesperei-me. Veio a crise de ressecamento. Cheguei a beber seis copos de água, seguidamente, e a sede não passava. Minha língua ficou seca. Foi um pavor indecifrável. Levaram-me para ultrassonografia. O equipamento utilizado pelo médico era tal qual um pesado rolo a comprimir o meu corpo. Mais um médico chegou à sala e, então, começaram a debater a gravidade do caso. Já era noite quando concluíram que eu estava com hemorragia interna e corria risco de morte. Decidiram pela minha transferência para outro hospital, em Caxias – MA, há 124 quilômetros. Ao meu lado estava compadre José Augusto que, sem perda de tempo, levou Ariely a casa, para trocar de roupa, pois a mesma decidira seguir em minha companhia. Hora da viagem. No momento da despedida, além do compadre José Augusto estavam: Delano, Valtinho e minha esposa. Agora era confiar em Deus e no motorista que me transportaria em alta velocidade. Parecia que a viagem não tinha mais fim. Finalmente chegamos. Fui levado direto a uma sala de observação e triagem para ser examinado por uma equipe médica. O hospital providenciou contatos imediatos para localizar um especialista para o meu caso. O tempo passava... Pedi a Deus que me amparasse. Um dos médicos me ouviu suplicar e disse: Vai dar tudo certo, fique calmo. Apaguei! Já era o efeito da anestesia. Estava na mesa de cirurgia. Enquanto isso, lá fora, minhas irmãs rezavam o terço.  Lá, também se encontrava Eduarda, esposa do amigo “Santos”. Tenho uma enorme dívida de gratidão para com o casal. Já se passava da meia noite quando fui levado para a enfermaria onde passei horas a fio me debatendo. Mais aliviado abri os olhos. Foi quando vi o sorriso tranqüilo da minha filha. Foi maravilhoso. Deus atendeu as minhas preces. Nasci de novo! A recomendação médica era não beber nem comer durante longas 48 horas. Devia usar apenas algodão umedecido em água para não ressecar os lábios. Vez por outra abria os olhos e via minha Ariely, no desconforto de uma cadeira de espaguetes, pronta para me amparar quando eu precisasse. Ela e Eduarda se revezavam nessa lida em turnos de 12 horas. Ao segundo dia do pós-operatório passei a receber visitas. Eram meus irmãos Duzar, Noélia, Francisco, Wilmar e Maurílio que vinham me ver. Senti uma energia diferente, inexplicável até. Que bom, eu estava vivo! Em conversa com o médico plantonista eu soube que a cirurgia fora complicada. Tiveram que retirar a minha vesícula e parte do meu  fígado. A recuperação, segundo ele, é de, no mínimo, três meses. No sábado seguinte recebi a agradável visita da minha filha caçula Carla Andréia e da minha sobrinha, Gleika, que vieram para dar um descanso à Ariely. O sol de domingo chegou. E com ele a esperança de voltar pra casa. Como que mandados por Deus achegaram Tia Sofia, Chagas, Aricélia e Maurílio. Estes me levaram a Timon, para perto da minha família, de quem recebi todo o apoio necessário. Agradeço a Deus e a todos. Disso não me cansarei.

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