Dilma tenta blindar seus projetos para explorar imagem de gestora em 2014 (De: estadao.com.br)
Prestes a iniciar a segunda metade de seu mandato, a presidente Dilma Rousseff pôs 11 áreas e 45 projetos do governo na rédea curta para acompanhamento diário. A estratégia inclui 170 câmeras vigiando a prestação de serviços públicos em aeroportos e hospitais. As informações são lançadas no Sistema Informatizado de Monitoramento (SIM) da Presidência da República, de acesso restrito do Palácio do Planalto e da Esplanada dos Ministérios.
Dilma determinou que seja dada atenção especial ao setor de emergências hospitalares e a projetos relacionados à Copa de 2014. A saúde sempre é apontada em pesquisas como uma das principais deficiências do poder público e a Copa ocorrerá a poucos meses da disputa presidencial, daqui a dois anos.
Candidata à reeleição, Dilma trabalha para não ver sua fama de gestora se diluir até lá. Num momento de baixo crescimento da economia, com políticos de oposição, como o senador Aécio Neves (PSDB-MG), e até aliados, como o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, pondo seus nomes na roda para a sucessão de 2014, ela tenta mostrar serviço contra a burocracia. Enfrenta, porém, a lentidão da máquina pública.
Responsável pela tarefa de monitoramento, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, nega que projetos emblemáticos, como o trem-bala entre São Paulo e Rio, estejam parados. "Faz tempo que ouço esse discurso. Eu lembro que, quando o governo lançou o Programa de Aceleração do Crescimento, também diziam que estava empacado. O problema é que as pessoas têm uma expectativa de que as coisas se realizem no dia seguinte do lançamento. Nós estamos na área pública e os tempos, muitas vezes, não são os tempos das expectativas", afirmou Gleisi ao Estado.
O governo montou, no início do ano, uma equipe de 30 técnicos só para fiscalizar o andamento de cada uma das 11 áreas monitoradas. A lista inclui redução da pobreza e superação da miséria, infraestrutura, saúde, educação, segurança e enfrentamento às drogas, cidadania, grandes eventos, tecnologia e comunicação, meio ambiente, gestão, desempenho e competitividade, além de desenvolvimento econômico.
Os eixos temáticos são o guarda-chuva que abriga 45 projetos considerados prioritários, como Brasil sem Miséria, Minha Casa Minha Vida e SOS Emergências. Todos aparecem no sistema informatizado com detalhes de cada etapa e prazo a ser cumprido.
Se algum prazo "fura", Gleisi faz a cobrança por telefone. Se o problema não é resolvido no nível técnico, vai "subindo" na hierarquia. Toda sexta-feira, a chefe da Casa Civil recebe uma pasta com os casos mais complicados. "Eu passo o sábado lendo problemas", contou a ministra, que é pré-candidata do PT ao governo do Paraná. "É um relatório bonitinho, fofinho, que me diz o que era para ter sido feito e não foi."
Dilma recebe um resumo mensal do monitoramento em seu tablet, com os "destaques" do período. O mais recente lembrava que o programa Minha Casa Minha Vida entregaria ontem sua milionésima unidade.
Além do boletim, Dilma pode acessar o sistema sempre que quiser saber o estágio de cada ação. De seu computador ela tem como verificar, por exemplo, uma câmera instalada no check-in do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, ou a sala de espera do Hospital Metropolitano em Ananindeua, no Pará. "Todo mundo está em alerta, sabendo que a presidente a qualquer momento quer os dados", comentou Gleisi.
Apesar do "Big Brother federal", os atrasos em obras são constantes. Em sintonia com a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, para quem isso faz parte da "regra do jogo", técnicos dizem que, ao preparar um projeto, a única certeza que se pode ter é que "o cronograma não será cumprido".
É o caso das concessões rodoviárias. A programação já começou a ser "furada", apesar das reiteradas promessas de atenção aos prazos. O edital do leilão do trecho mineiro da BR-116 foi prometido para novembro, mas não saiu até agora. Está pendente de aprovação pelo Tribunal de Contas da União (TCU). "Cumprimos os prazos do Executivo, mas não temos como interferir em outro poder", justificou Gleisi.
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