Decisão
do STF traz segurança jurídica à Lava Jato
* ALAN ROGÉRIO MANSUR SILVA |
A 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal tomou uma importante
decisão para o futuro da Lava Jato. Recebeu denúncia ajuizada pelo PGR Rodrigo
Janot contra o senador Valdir Raupp e seus dois assessores, por crime de
corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Reconheceu que pode haver pagamento de
propina disfarçado de doações eleitorais registradas. Este entendimento é a
base de diversas denúncias apresentadas pelo MPF na Vara Federal de Curitiba e
no STF.A decisão é fundamental para o prosseguimento
da Lava Jato nos moldes que conhecemos. Em quase 3 anos de operação Lava Jato,
a sociedade brasileira vem percebendo que uma parte das doações eleitorais
registradas serviam para dissimular o pagamento de propina. Valores vultosos
foram pagos por este meio. Seria uma forma perfeita de recebimento de propina e
de lavagem de dinheiro. Porém, o imponderável ocorreu. Uma a uma, as grandes
empresas financiadoras das campanhas eleitorais declararam que a verdadeira
finalidade de grande parte das doações não era a de estimular os debates
democráticos, mas a de dissimular pagamento de propina, em troca de contratos
com o Governo ou outra promessa de vantagem. A situação foi tão escandalosa que
a legislação passou a proibir qualquer doação empresarial a partir das eleições
de 2016.A decisão do STF chancela o
entendimento dos Procuradores da República que integram a Força-Tarefa da Lava
Jato e do Juiz Federal Sérgio Moro. Moro já condenou o ex-senador Gim Argello
pelos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção passiva e obstrução à
investigação por recebimento de propina decorrente de doação no “caixa 1”. Em
outro processo, Moro condenou Renato Duque e João Vacari Neto por corrupção
passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Na oportunidade, decidiu
que “com a utilização de recursos criminosos para a realização de doações
eleitorais registradas, conferindo a eles uma aparência de lícito de uma
maneira bastante inusitada e pelo menos, da parte deste Juízo, até então
desconhecida nos precedentes brasileiros sobre o tema”.A decisão do STF traz novas luzes
ao debate e uma maior segurança jurídica aos outros processos da Lava Jato.
Sinaliza que a engenhosidade criada para financiar campanhas eleitorais
milionárias, que provocou um claro desequilíbrio financeiro das diversas
eleições nas quais ocorreu, teve uma dura resposta do Judiciário, da forma que
a sociedade esperava.No final de 2016, uma tentativa
anônima de anistiar nas “esferas penal, civil e eleitoral” as práticas
irregulares do caixa 1 (dissimulado) e caixa 2 circulou na imprensa e em
corredores do Congresso.A proposta ainda tinha a frase
“Inclua-se onde couber”, indicando que tal emenda poderia ser incluída em
qualquer diploma normativo cabível. Pela indignação causada, a emenda nem mesmo
foi formalmente apresentada ao Congresso. E agora, o STF indica que não vai
tolerar que o sistema eleitoral brasileiro seja utilizado para lavar dinheiro
de origem ilegal.Sempre sob constante olhar da
sociedade, a Lava Jato avança.
* ALAN ROGÉRIO MANSUR SILVA é Procurador da República do
Núcleo de Combateà Corrupção (MPF/PA) e Diretor da Associação Nacional dos
Procuradores da República (ANPR).
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